por Leno Veras

Da imagem e semelhança
Em 1637, aportou em Pernambuco uma comitiva de artistas e cientistas trazida pelo conde Maurício de Nassau para documentar a Nova Holanda, instaurando, desse modo, seu marco representacional. Entre eles estavam os célebres artistas Frans Post e Albert Eckhout, e o astrônomo Georg Marggraf, coautor de Historia Naturalis Brasiliae, primeira obra de caráter científico acerca da natureza brasileira.

O chamado Novo Mundo era um universo desconhecido do ponto de vista dos co- lonizadores europeus como Nassau. Essa complexa amálgama de descobertas foi terra fértil também para o desenvolvimento de representações em que a natureza e a cultura se mesclaram, conformando diversas alegorias da América e distintas simbologias do Brasil mapeadas, antes de tudo, pelo imaginário e pela memória desses viajantes.

Tendo em vista a relação estabelecida entre lembranças cientificas e imaginações artísticas no contexto das missões colonialistas, as representações da natureza e da cultura erigiram-se como uma exuberante narrativa capaz de compor vastos compêndios ilus- trados, nos quais a biodiversidade tropical e a multiplicidade das culturas originárias se confundem entre mitologia e antropologia. Ao exprimir uma conjuntura complexa de experiências em que monstros marinhos coexistem com coordenadas geográficas, estas antigas cartografias da fauna e flora brasi- leiras aproximam-se dos trabalhos contemporâneos de Fosca - artista nascida em alto mar, de ascendência holandesa e origem veneziana, cujas grandes navegações levaram-na ao outro lado do Atlântico, onde a mesma velha natureza tem renovadas suas criaturas.

Leno Veras è responsável pela Gerência de Pesquisa e Documentação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio).
Junto à Diretoria Artística de Keyna Eleison e Pablo Lafuente, se soma à transformação que esta nova gestão vem implementando na instituição. Membro do Comitê de Indicação do Prêmio PIPA 2020. Leno Veras é comunicólogo, pesquisador e professor, dedicando-se aos campos curatorial e editorial com foco na abordagem educativa. Desenvolveu projetos que articulam teoria dos meios, sistemas de memória e histórias da arte em organizações internacionais, não governamentais e da sociedade civil, bem como em instituições públicas e privadas de educação e cultura, dentre elas diversas universidades, centros de pesquisa, museus, bibliotecas e arquivos. Atualmente, desenvolve sua tese de doutoramento na Escola de Comunicação da UFRJ e, como pesquisador visitante, no Instituto Warburg na Escola de Estudos Avançados da Universidade de Londres.
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